26 novembro 2009

Paranóia com leitores










Benett acredita que muitos dos seus leitores não gostam

ou não entendem suas charges


Antes da matéria, porém, um adendo: Bem, leio muito, é verdade. Tudo o que imaginarem, desde quando era menor do que eu sou atualmente (pensem na situação crítica). Os quadrinhos foram minha escola (assim como o da Daiane). Mas nós inveredamos para as palavras, não para os desenhos. Por sorte - já que aí conseguimos conhecer e admirar pessoas que nasceram para a coisa.
Fuçando meus textos de faculdade, encontrei um texto que fiz com o Benett, um cartunista ponta-grossense radicado aqui na capital curitibana. O texto está no original e os dados que atualizei estão colocados em vermelho. Espero que gostem!


A expectativa era grande. Depois de passar uma semana trocando e-mails, tínhamos combinado de nos encontrar na sede da Gazeta do Povo em Curitiba. Com meia hora de atraso, o jornalista e cartunista ponta-grossense, Benett Alberto de Macedo- o Benett- chegou ao encontro vestido com calças jeans, camisa azul sobre camiseta branca, tênis e boné. Não aparentava que tinha 32 anos [atuais 35]. Durante a primeira parte da entrevista, terminou de pintar e desenhar uma folha com pequenas caricaturas. Na segunda parte, que aconteceu fora da redação, ele tomou café e comeu uma barrinha de Laka. Além disso, me mostrou toda a redação do jornal

Conhecido por muitos por seu humor ácido- e por seus atrasos constantes (“Sou o Tim Maia dos cartunistas!”), Benett é um representante do Bon vivant. Gosta muito de ouvir rock dos anos 60 e 70 em rádios especializadas na internet, além de escutar Beatles e assistir a filmes de Woody Allen. “Não sei... sou meio fissurado no tipo de humor que ele faz”, conta. Além disso, ele lê muitos livros, jornais e revista porque, segundo o próprio cartunista , isso reflete no seu trabalho. “Se eu lesse só quadrinhos, só coisas de humor, eu ficaria sempre nas mesmas charges, nas mesmas piadas e isso não seria legal”, revela.

Apesar de ter nascido em Ponta Grossa, o cartunista não gosta da cidade. “Não tenho boas lembranças. É uma cidade horrível né?”, questiona. Ele ainda desabafa em tom de brincadeira: “Morava em um lugar tão longe- Santa Paula- que descobri esses tempos que nem o Google Earth cobre aquele lugar. Se alguém quiser montar uma célula terrorista monta no Santa Paula!”.

Formado em Jornalismo desde 1999 pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, trabalha na Gazeta do Povo desde 2001. Mas já passou por outras redações: Diários dos Campos e Jornal da Manhã (ambos de Ponta Grossa). Além disso, fez tiras em quadrinhos para o BC Station - fornecedor de conteúdo do Banco Real – e cartuns para O Espectro (nas palavras dele, “house órgão do espiritismo”). O cartunista brinca: “Mas os desenhos só saíam na versão espírita, para almas penadas. Depois é que passaram a imprimir na versão ectoplasma...”

Benett, entre um rabisco e outro, revela que profissionalmente “chargeia” desde 99, mas desenhava desde os seus 3 anos. As influências vieram do seu irmão mais velho e do avô.Segundo o desenhista, era normal viver com lápis e papel na mão. Ele conta que nunca fez curso de desenhos e a única vez que tentou fazer, o professor disse que ele não levava jeito. “Acho que porque eram desenhos mais clássicos e eu queria fazer esse tipo de desenho que eu faço”, conta.

Seu primeiro emprego foi no Jornal da Manhã em 1994 mas foi despedido quando fez uma brincadeira com a via sacra. Ele acredita que os donos do jornal eram católicos e que não gostaram da brincadeira. “Foi por isso também que fiz jornalismo. Achava que era uma forma de me aproximar do jornal novamente e não deu outra...”, conta.

Benett já esteve metido em várias “encrencas”. A mais famosa delas aconteceu em 1997 com o ex-prefeito de Ponta Grossa, Jocelito Canto. O cartunista faria uma exposição no SESC da cidade com o título “Minha vida com Jocelito Canto”, mas ela foi vetada. Os desenhos então, foram expostos durante um mês todo no Diretório Central de Estudantes- DCE – da UEPG. A exposição, conta, era um conjunto de charges que já tinham sido publicadas. “Só que ele deve ter achado que era alguma coisa homossexual, sei lá”, diz. O desenhista conta que na época Canto queria uma indenização de R$ 40.000,00 - “total demente”- e que foi processado por calúnia e difamação. “Um acabou prescrevendo e outro foi feito um acordo já que meu advogado –que foi pago por um inimigo político do Jocelito- virou amigo do próprio”, revela.

O cartunista, porém, admite que fez um “jogo sujo” com o prefeito. Ele diz que sua verdadeira intenção era arranjar um emprego e que sabia que se fizesse uma exposição com esse nome daria em confusão e que chamaria a atenção. “Dito e feito. Ele caiu como um patinho na minha armadilha. Dois anos depois, eu consegui meu emprego”, conta ironicamente.

Benett se mostra paranóico com seus leitores. Às vezes, ele acredita que eles não gostam das suas charges- fato que é contestado na comunidade do Orkut “Benett Apavora”- ou que estão acostumados com outros tipos de charges. “Quando cubro outros cartunistas, como o Paixão, acaba dando um choque para o leitor. Os desenhos deles são mais caricaturas, desenhos mais plásticos enquanto os meus são mais simplistas com muito texto”, diz. E brinca: “Nada que uns três anos de análise não resolvam!”.

O chargista explica também como se dá o processo dos desenhos: “Primeiro eu faço os desenhos a lápis. Depois passo uma caneta preta por cima, como você está vendo e depois scaneio e passo pro computador. Só aí que vou digitar os textos, passo um cinza e engano a torcida”. Benett admite que não são todas as charges ou desenhos que ele gosta. “Algumas passam a idéia que eu queria e tudo mais, mas têm outras que não...”. O tempo, segundo ele, é um fator decisivo. Somente naquele dia ele teria que entregar quadro caricaturas, uma ilustração e uma charge política. “E eu nem sei quando ou se vai ser publicada”, diz.

O desenhista explica que existe uma diferença entre quadrinhos e charges. Quadrinhos seriam aquelas piadas que não morrem nunca: do náufrago, do cara dentro do armário. Agora as charges são políticas, baseadas no fato do dia. Mais à vontade e tomando um café na cafeteria próximo a sede do jornal, Benett se definiu como um cartunista por ser mais amplo. “Na minha visão, o quadrinista é aquele cara mais cdf, nerds de óculos e o chargista aquele cara mais sério, que só vê política. O cartunista já envolve os dois”, conta.

Benett diz que a idade influencia muito na hora de fazer os desenhos. Antes, afirma, que chegava a ficar 8 horas por dia na frente do computador, desenhando. “Na época que eu fazia o “Bananas” no DC (Diário dos Campos – Ponta Grossa), desenhava feito um cavalo, feito um escravo castrado. Não dormia ou dormia muito pouco. Agora consigo viver”, conta. Mas, apesar de viver mais saudável, faz uma ressalva: “Preferia antes. Era mais divertido”.

O cartunista faz, ainda, piadas sobre a profissão. Ele achava que poderia ficar rico, mas só Ziraldo e Maurício de Souza que conseguiram essa façanha. “É porque eles estão velhos. Agora pagam pros outros desenharem. Deve dar câimbra na mão só de fazer um risco assim”, brinca.

Em 2005, Benett ganhou o primeiro lugar no Salão de Humor de Piracicaba e por causa disso, ficou conhecido por muitas pessoas. Mas o anonimato ainda faz parte da vida do cartunista. “Que diferença faz para as pessoas me conhecerem?”, pergunta. E ele mesmo responde: “Nenhuma. Não faz diferença elas conhecerem um chargista a mais ou um chargista a menos na vida delas”.

Benett tem duas personagens que são bem conhecidas. Um deles leva o nome do próprio cartunista (pela maneira como se veste, fala e pensa). Ele diz que isso aconteceu porque tem uma grande dificuldade em criar personagens: “Eu criava uma ou duas personagens, mas no fundo eles eram iguais e a essência era a mesma”. Mas admite que exagera em pequenas no Benett para tornar a “coisa” mais engraçada, mais divertida. “Não que eu não passe pelas mesmas coisas, pelos menos problemas”, comenta. Já o Punkadinha, outra personagem conhecida do cartunista, seria um punk de hoje em dia. “Eu queria na verdade, fazer um emo. Mas não conheço esse mundo e não teria como criticar. Aí, inverti as coisas”, conta. Porém, revela: “Na essência, ele é o Benett só que menor. Está em uma adolescência rebelde, socialmente aceitável”.

Atualmente, Benett desenha em grande parte dos cadernos da Gazeta do Povo. Faz o Salmonelas, o Punkadinha (Gazetinha), Monstros (Caderno G), Maridos desesperados (Viver Bem). “E agora to fazendo as charges para as eleições”, conta. Além disso, o cartunista ainda faz desenhos para os seus sites pessoais (http://www.benett-o-matic.blogger.com.br ehttp://www.charges-o-matic-blogger.com.br) e para a revista Zongo. [Atualmente o jornalista ainda atualiza o Blog do Benett]

“Já leu a Zongo?” questiona. Com a resposta negativa, diz: “Ah... é uma pena, se tivesse ela aqui ia dar uma pra você...”. Zongo é o nome da revista que Benett em parceria com outros cartunistas como Paixão, Arnaldo Branco e outros [e, sendo totalmente parcial, muito engraçada e boa. Tenho uma, autografada, do estilo fã de ser]. Ela surgiu entre a página de humor que ele fazia na Gazeta chama Gonzo e o seu blog pessoal em 2004 e os desenhos são mais alternativos. “Mas só fui publicada em março abril desse ano. Até fiz uma aposta macabra (de ficar castrado) que não cumpri e nem pretendo”, relembra entre risos.

Agora em outubro, segundo Benett, está para sair a segunda edição da revista [que nunca foi publicada até onde eu sei, mas existe a versão dela em PDF. Certo? Vou baixar] “Foi por isso que me atrasei. Estava escolhendo as fotos da entrevista com o Alborghetti. Preciso enviar hoje para o diagramador”, conta. O cartunista admite que não costuma a revisar os textos que publica e que por isso na capa da Zongo número um saiu um erro de português, além de erros de digitação. “Mas acaba sendo absorvida como mais uma piada da revista. É uma revista de humor, não uma monografia”, afirma.

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