26 junho 2011

Um aniversário, um disfarce.

Demoro sempre pra escrever aqui. Vontade é o que não me falta, como podem imaginar. Sempre que passo por aqui desejo deixar algumas palavras – doces ou amargas – mas nunca as encontro na verdade. Elas parecem simplesmente gostar do jogo de pique-esconde e só se sentem motivadas a dar as caras se algo faz com elas se sintam à vontade com elas mesmas.
Imagino então que, dessa vez, a risada da minha doce e pequena afilhada Alice tenha desencadeado tudo. Aliás, com certeza foi. Era aquele riso tranquilo, inocente, e que poderia demorar horas. Aquele riso que eu mesma costumava a ter quando era criança e saía por aí a passear com você de mãos dadas pelas ruas do bairro. Aquele mesmo riso de encantamento ao descobrir um cachorro ou um pássaro no céu. Aquele riso inocente.
Foi no meio desse riso que eu tive a nítida impressão de te ver entrar em casa e se dirigir pra cozinha preparar o café, como fazia sempre de segunda à sexta, às três e meia da tarde. E eu realmente pude ouvir os barulhos de gavetas, xícaras e talheres. Se demorasse mais um pouco, era capaz de escutar o rádio sintonizado naquela estação AM que tanto tocava quando ainda estava por aqui. Tive que respirar fundo e voltar a me concentrar, lembrar de que tudo isso se fora há mais de dois anos e que nada do que acontecesse mudaria o fato e que a única pessoa que estava ali comigo tinha dois anos de idade.
As sensações não pararam por aí. Coisas a mais aconteceram, minutos depois. Ou antes. Agora fica difícil distinguir. Levei a Alice pra sacada – no meu colo, em segurança, claro - e quase pude te ver, encostado na parede, apreciando o movimento, como sempre fazia aos domingos ou sábado à tarde quando não ficava na Farmácia do Zé, conversando. Transcendi ao acreditar que poderia, naquele momento, estar ao seu lado, olhando aquele horizonte bonito que temos da sacada do apartamento, como fiz durante quase a minha vida toda...
 Dia 23 último foi seu aniversário. Se estivesse vivo, faria 67 anos. Como quem não quer nada, trabalhei, saí com os amigos, evitei ao máximo pensar que poderíamos estar em casa, dividindo algum macarrão com molho e carne de posta. Quem sabe um bolinho com alguns familiares ou pelo menos, um abraço apertado e um desejo de que as coisas sempre acontecessem para te deixar bem. Mas isso, como diz a música, foi mais uma vontade que ficou pra trás.
Muito amor e muita saudade. Sempre.