16 novembro 2010

Despertar

"Alguém me disse - já não consigo me recordar quem foi - que era maravilhoso o fato de, quando se acorda cedo pela manhã, ao menos de um modo geral, encontrar tudo no mesmo lugar em que foi deixado na noite anterior. No sono e no sonho, pelo menos aparentemente, a gente se acha em um estado essencialmente diferente da vigília, e conforme aquele homem disse, aliás com muita razão, é necessária uma presença de espírito infinita, ou melhor, presteza para, ao abrir os olhos,  de certo modo apreender tudo o que ali está, no mesmo lugar em que foi abandonado ao anoitecer. Por isso, também, é o que o momento do despertar seria o momento mais arriscado do dia; uma vez superado, sem que se tenha sido deslocado do lugar em que está para outro lugar, a gente pode encarar consolado todo o resto do dia." [KAFKA, Franz. O processo, página 289 em referência à ppágina 25]

12 novembro 2010

(...)De vez em quando...

"(...) De vez em quando todo mundo tem um daqueles dias em que tudo é em vão... uma série de frustrações do início ao fim; e quem sabe se cuidar fica escondido num canto seguro em dias como esse, só de olho. Talvez pensando um pouco. Recostado numa cadeira barata, distante do tráfego, abrindo preguiçosamente umas cinco ou oito Budweisers... fumando um pacote inteiro de Malboros longos, comendo um sanduíche de manteiga de amendoim. (....) [THOMPSON, Hunter S. Medo e Delírio em Las Vegas: Uma jornada selvagem ao coração do Sonho Americano. Porto Alegre, RS: L&PM POCKET, 2010, p.214]

30 outubro 2010

O amor continua...

... mesmo que a cor do meu cabelo mude, que eu engorde ou emagreça, que você tenha ou não barba, que você tenha uns fios de cabelo a menos, que a gente esteja quebrado ou rico, com mestrado ou somente com freelas fotográficos ... O que importa aqui somos eu, você e nosso amor. Ah e claro... a Tifa né? ;)
Te amo vida. Todos os dias.

18 outubro 2010

Escolhas

Toda mudança se mostra difícil. Os motivos, obviamente, são vários. Apego, medo da mudança de rotina, esperança de que as coisas podem simplesmente se resolver sozinhas, enfim, muita coisa. Mas se a gente não muda, se a gente não age a situação continua e se perpetua. Nem sempre isso é bom.
Deixei de falar com muitas pessoas nessa vida. Deixei também de fazer várias coisas que fazia. Escolha minha. Pelo meu bem, pelo bem do meu relacionamento, pela minha vida. Não foi fácil e nem sempre é. Porque na verdade, vez ou outra você pensa como seria diferente "se". Mas não troco minha vida de hoje pela vida de antes (ok, talvez eu pegasse só os lugares que conheci porque AMO viajar de paixão e faz tempo que não faço isso). 
Não troco pelo simples motivo que sou feliz exatamente assim do jeito que sou, com a vida que levo (as pessoas entendo ou não, gostando ou não). Aprendi que da minha vida, sem ofensas, cuido eu.
Muitas pessoas já me perguntaram: "Por que anda mais quieta? Por que não fala com esse ou com esse?" Ué, a gente simplesmente não precisa fazer da nossa vida um livro público, falar aos quatro cantos. A gente fala o que dá pra falar e com quem acha que é possível conversar, que tem um mínimo de afinidades comigo e também com o meu amor.
Um sacrifício? Talvez. Não sei se encaro assim. Acredito que quando a gente ama abre mão de algumas coisas porque vê além do momento. Vê algo lá na frente, vê uma vida junto. E tudo mundo (com ou sem filhos). Um casal se apóia sempre. Nem todo mundo acredita nisso e nem todo mundo pratica isso também, mas tudo bem. Cada um faz o que pode e o que acha que deve. ;)

23 setembro 2010

Um amor além da fala

Olhava pro nada. Então ele veio, sorrateiramente, e deitou ao seu lado. Ela aproveitou o momento e encostou a cabeça no peito dele. Ficaram alguns minutos em silêncio. Nesse instante, um compreendia o outro. Ele fez o que pode. Ela acolheu todo o amor que veio. E assim, em pensamento, se amaram. Amaram-se como nunca, naquele gesto simples.

Viraram um de frente para o outro. Um sorriso, uma lagrima, dois suspiros. Como conseguiam se entender assim dessa maneira tão simples? Poucas pessoas entendiam porque poucas delas possuíam um amor desses, que se entende para além da fala. Atualmente todos parecem viver num ciclo de barulhos. O silêncio para alguns incomoda. Para eles, naquele instante, um conforto e toda a compreensão. E, acredito eu que, não precisavam de mais nada.

11 agosto 2010

Os pais

"Os pais raramente libertam os filhos, os filhos é que se libertam dos pais. Se mudam. Vão embora. As forças que os definiam - a aprovação da mãe, o aceno de cabeça do pai - são compensadas pela força dos seus próprios talentos. É muito mais tarde, quando a pele fica flácida e o coração enfraquece, que os filhos compreendem: suas histórias, assim como todas as suas realizações, se assentam sobre as histórias e realizações de suas mães e seus pais, pedra a pedra, sob a água de suas vidas." [ALBOM, Mitch. As cinco pessoas que você encontra no céu. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. Pág. 121]









[Foto tirada em 08/08/2010, em Irati - PR]

01 agosto 2010

Minhas lembranças


Meu pequeno grande amor e o homem mais importante do mundo, meu pai. (Fotinha dos 15 anos da Jé, em 2008)

25 julho 2010

Ser fotógrafa exige...

Me defino como fotógrafa e também com jornalista. Sempre as duas. Tá que posso quase dizer que sou mais fotógrafa do que jornalista, mas parto do princípio que ambas as profissões andam comigo porque uma coisa levou a outra. Não sei quem surgiu primeiro. (pensando bem... deve ter sido a fotografia já que naqueles juris simulados eu sempre ficava no povo da imprensa e sempre tirava fotos... hahaha)
O fato é que ser fotógrafa exige. Exige da mente, do estado de espírito, de animação. Exige disposição, exige leituras, exige momentos de descontração, de troca de idéias com outros fotógrafos.
Ser fotógrafa exige um vinho em dia frio e uma cerveja gelada em dias de calor. Exige sapato baixo, exige roupas confortáveis, exige risada, exige paciência, exige persistência e exige mais um pouco de paciência.
Ser fotógrafa exige viajar, exige sono tranquilo, exige amor, exige paixão, exige aprendizado, exige descanso, exige parceria, exige caráter, exige respeito, exige pessoas. Enfim, exige muitas coisas.
Ser fotógrafa, pelo menos para mim, exige principalmente viver.

ps: foto do Luis Fernando Vales da minha sala do Centro Europeu.

21 julho 2010

Mon amour, mon ami

Gosto muito de músicas francesas até porque eu gosto muito de falar francês, embora ele esteja meio velho e um pouco enferrujado. E aí ontem procurando alguma música pra mandar pro Deh, encontrei uma nas letras da Carla Bruni chamada "Mon amour, mon ami" que ao pé da letra significa "Meu amor, meu amigo". Provavelmente a letra original é da cantora francesa Marie Laforêt e foi dela que colocarei o vídeo. (:
A letra trata de um amor, que é amigo e que se é impossível viver sem ele. Todas as músicas cantadas são feitas para esse amor e que nunca existiu um rapaz assim e se existiu não há lembranças disso. Os sonhos são todos voltados para ele e que é possível amá-lo por toda a vida.
Ideal para o dia de ontem, ideal para todos os dias. E eu dedico para meu amor, meu amigo, meu namorado, minha vidinha. Te amo.



Eu sei. O dia do amigo foi ontem. Em tese, deveria ter falado disso ontem. Mas a intenção é a que vale né? (:

01 julho 2010

Nossas notas

Gosto de música e exatamente por isso gosto de você. Porque a música, como você, desperta os meus sentimentos. Os bons e às vezes os ruins também - Não é a toa que falamos que temos aqui um amor bipolar.
Eu consigo ver o amanhecer nos seus olhos, mesmo que seja de noite. Eu quero me esconder do mundo e da vida debaixo das suas roupas. E sei que você sente o mesmo. Também tenho vontade de ficar na minha - e você igualmente - mas tem horas que se me deixar falo até quase você pedir pra eu ficar quietinha novamente.
Há muito tempo, achei não encontraria alguém, tinha desistido e então... você apareceu do nada, mexeu demais comigo e todos que me veem, incluindo aqueles da fila do pão, sabem que nos encontramos. E você? Teve a certeza que não devia ser, devido a todos os clichês que isso te despertava e mesmo assim seguiu meu pedido e teve fé e viu coragem no nosso amor. E nós somos capazes de sairmos de nós para nos vermos bem.
Todos os dias, antes de me maquiar... eu faço uma prece pra você, porque estará para sempre em meu coração e viver sem você me deixaria de coração partido. E aí olho pro céu, duvido do brilho das estrelas, mas não duvido do seu amor. Sou seu tudo e você é meu tudo, por causa Dele, acredito nisso. Tudo que nos acontece está ligado aos desejos Dele. E Ele bota uma fé em nós.
Vejo flores em você - e flores, descobri, significa vida. Então, vejo vida em você. Tenho a minha história e a vida vejo com você, caminhando juntos, para além do tempo.
Se antes eu não sabia como me sentia quando estava com você, hoje sei... É, aquele dia um algo mais, algo que não poderia entender.
Você não sabe o quanto significa pra mim, amor da minha vida.

25 junho 2010

Me falta o velho

Dia 23. Festa de aniversário de 66 anos. Se estivesse entre nós, é claro. Vibraria comigo nos jogos. E a gente ia ficar palpitando, menos que minha tia - óbvio. E trocaríamos idéias, e comeríamos pipoca e tudo mais que um pai e uma filha podem se fazer durante a Copa.
Isso aconteceria porque quando criança, você saia comigo aos domingos de manhã e íamos no América, clube a duas quadras de casa. Torcíamos para boas jogadas, geralmente pro dono da casa, afinal, durante muitos anos você era jogador de lá. Divertido, mesmo que eu não entendesse quase nada.
Então, essa seria uma Copa bacana -porque agora, cada dia que passa, me pareço mais com você. Explosiva apenas em raros momentos, nos demais, sempre na reconciliação, sempre na conversa, sempre no jeito. E o jeito de torcer - me lembro - é exatamente igual.
Queria conseguir falar mais, não consigo. Tem vezes que é assim mesmo, o que fazer? Sei apenas que nos dias que se seguem fico apenas com aquele sentimento, que tento ignorar, finjo que não sei do que se trata, mas que se chama saudade. Já diz uma música da Ana Carolina, Tanta Saudade:
"Mas restou a saudade
É , pra ficar
Ai, eu encarei de frente
Ai, eu encarei de frente, menina
Se eu ficar na saudade
E deixar
Saudade engole a gente
Saudade engole a gente, menina"

Mas acho que a música mesmo que descreve é a cantada pelo Diogo Nogueira, Espelho:

"Num dia de tristeza me faltou o velho
E falta lhe confesso que ainda hoje faz
E me abracei na bola e pensei ser um dia
Um craque da pelota ao me tornar rapaz
Um dia chutei mal e machuquei o dedo
E sem ter mais o velho pra tirar o medo
Foi mais uma vontade que ficou pra trás
Eh, vida à toa
Vai no tempo vai
E eu
sem ter maldade
Na inocência de criança de tão pouca idade
Troquei de mal com Deus por me levar meu pai
"


Te amo. Sempre e além.

obs: não fiquei de mal com Deus já que existe tempo para tudo, de viver e de morrer. Porém confesso que também não fiquei muito feliz.

22 junho 2010

Gosto muuito de ler blogs na internet. Fotografia, jornalismo, pessoais. Enfim, tenho uma boa coleção de leituras na rede. E vez ou outra existem coisas que realmente me chamam atenção, que transformam meu emocional.
Isso aconteceu hoje quando eu li o texto escrito no "Um sonho com você". Com o nome, "A força do amor", o meu amigo de anos, Jorge faz uma declaração de amor à Bruna e também uma reflexão muito bonita. Fiquem com um trecho do último parágrafo:
"(...) Não duvidem que o amor possa mudar nossa vida. Não duvidem nunca do amor, porque ele é sempre origem e destino de todos nós. Podemos nos enganar por aí, achando que o nosso jeito de ser e pensar é o certo e vamos conseguir convencer todos a pensar como nós. Típico pensamento masculino. Pelo contrário: nosso jeito de pensar e ser vai nos levar à solidão completa. Amar significa estar disposto a aceitar a verdade do outro, e tomá-la como verdade própria .(...)"

É. É exatamente isso. ;)
Um abraço pro casal e um beijo pro meu amor.

15 junho 2010

Declaração

Não sei sobre o que escrever. Já falei sobre futebol no blog do Danilo Silvestre e no blog da Jé Tozetto . Tá bom que em um fiz um pedido de boas jogadas - que combinemos que essa Copa anda meio fraquinha de jogadas Bonitas com bê maiúsculo mesmo - e em outro coloquei o Clip Oficial da Copa. De fotografia meus textos se encontram agrupados no Anne Fotografia e no Fotografia DG. Então o que falar?
Amor. Quero apenas fazer uma declaração simples e singela a ele que me tira o fôlego todos os dias, que faz eu morrer de saudade sempre que nos despedimos, que me faz ter frio na barriga só de vê-lo. Ele que me compreende, que me ajuda, que entre me faz querer ser melhor e que faz as coisas para que tudo entre nós fique bem, mesmo ainda que dificuldades. A você, André Luan, um EU TE AMO não basta. Mas é um começo. ;)

Fotinha do adesivinho do carro (que por sinal tá "meio" sujinho). Tifa, eu e Deh.

Vaivem

Estreiando o novo layout do blog - que por sinal está FANTÁSTICO - quero dizer que quase que abandonei esse blog. O exercício do jornalismo tem se mostrado em outro ritmo para minha pessoa e de outras formas, especialmente a fotografia. Então, não se preocupem se esse blog vire menos notícia e mais filosofia - é da minha natureza atual. Ando mais pensante do que falante e isso, definitivamente, faz uma grande e boa diferença na profissão e na vida.
Então, é mais fácil me encontrar no Anne Fotografia, no blog do Danilo Silvestre e no Fotografia DG. Mas mesmo assim vou procurar aparecer aqui com mais frequencia, já que esse é meu novo recanto. Prometo.
Logo posto fotinhas. E textos, óbvio.
Beijos

24 fevereiro 2010

Haiti. As outras réplicas.

Artigo de Eduardo Galeano

Pat Robertson,teleevangelista de ampla audiência, explicou claramente o assunto do terremoto. O pastor de almas cantou a bola: as placas tectônicas não têm nada a ver. O terremoto é uma consequência do pacto que os negros haitianos haviam feito com o diabo há dois séculos. Satã os libertou da França, mas o Haiti se converteu em um país maldito.

O bom Pat não está sozinho. São muitos os que acreditam, ou ao menos suspeitam, que a liberdade foi o pecado que condenou o país à desgraça perpétua. O Haiti não seria um país maldito se tivesse aceitado seu destino colonial.

Mas, maldito por quem? Os negros haitianos haviam humilhado o Exército de Napoleão Bonaparte, que nessa guerra perdeu 18 oficiais, e a França cobrou caro a expiação. Durante mais de um século, o Haiti pagou à França uma indenização equivalente hoje a quase 22 bilhões de dólares, por ter cometido semelhante sacrilégio.

O novo país nasceu endividado e arruinado, arrasado pela guerra da independência, que a tantos matou ou mutilou, e também arrasado pela exploração desapiedada de seus solos e de suas pessoas extenuadas no trabalho escravo. A prosperidade da França havia sido a ruína do Haiti. Todo o país se havia reduzido a uma imensa plantação de açúcar, que aniquilou as florestas e secou a terra. Os negros livres herdaram um reino sem sombra e sem água.

Nestes dias, a imprensa divulgou resenhas históricas. Supõe-se que ajudam a entender o que acontece. Em quase todos os casos, nos contam que o Haiti foi o segundo país livre das Américas, porque havia seguido o exemplo da independência dos Estados Unidos. A verdade é que não foi o segundo. Foi o primeiro, o primeiro país realmente livre, livre da opressão colonial, sim, mas também livre da escravidão. E foi o primeiro, exatamente porque não seguiu o exemplo dos Estados Unidos: o Haiti foi um país sem escravos 60 anos antes dos Estados Unidos, cuja primeira Constituição estabeleceu que um negro equivalia a três quintas partes de uma pessoa.

E o Haiti nasceu, por isso, condenado à solidão. O Haiti difundia, apenas com seu exemplo, uma peste contagiosa. Nenhum outro país reconheceu sua existência. Todos lhe deram as costas. Nem sequer Simon Bolívar, quando governou a Grande Colômbia, pôde recordar que devia sua glória aos haitianos, porque eles lhe haviam dado navios, armas e soldados, quando estava vencido, com a única condição de que libertara os escravos.

Outra réplica do terremoto: são muitos os que creem, e não poucos a afirmarem, que toda a ajuda será inútil, porque os haitianos são incapazes de se auto-governarem. Levam na testa a marca africana. Estão predestinados ao caos. É a maldição negra.

Pelo mesmo motivo, os Estados Unidos não tiveram outro remédio que invadir o Haiti em 1915. Robert Lansing, secretário de Estado, explicou então que “a raça negra é incapaz de se governar a si mesma e tem uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização”.

O presidente Woodrow Wilson, prêmio Nobel da Paz, fervoroso admirador da Ku-Klux-Klan, assinou a ordem de invasão, para restabelecer a ordem, evitar o caos e, de passagem, já que estavam aí, cobrar o que o Haiti devia aos bancos norte-americanos. As tropas foram para ficar apenas um curto período de tempo, mas acabaram ficando 19 anos. Não puderam restabelecer a escravidão, como haviam feito no Texas e na Nicarágua, mas ao menos impuseram um regime de trabalho forçado que era bastante parecido, e enquanto durou a ocupação militar proibiram que os negros entrassem nos hotéis, restaurantes e clubes reservados aos estrangeiros. Também proibiram que o presidente do Haiti cobrasse seu salário, até que emendou a sua conduta e presenteou o Banco da Nação ao City Bank.

Quando as tropas se retiraram, deixaram um país bastante pior do que aquele que haviam encontrado.

Oxalá, não se repita a história, agora que as tropas norte-americanas retornaram, trazidas pelo terremoto, e sobre as ruínas exercem o poder absoluto.

Terra desolada, gente desesperada: o Haiti viveu mal a sua vida, quase sempre submetido a ditaduras militares. Ditadura após ditadura: para que calem os muitos e mandem os poucos.

Um dos ditadores, Baby Doc Duvalier, escapou da fúria popular em janeiro de 1986. Fugiu, acompanhado por milhões de dólares, no avião militar que o presidente Ronald Reagan lhe enviou, em agradecimento pelos serviços prestados.

Tempos depois, por ocasião do terremoto, Baby Doc anunciou, do exílio, que doaria ao Haiti uma parte do dinheiro que havia roubado. Foi comovedor. Quase tanto como o gesto do Fundo Monetário Internacional, que decidiu emprestar ao Haiti 100 milhões de dólares.

A experiência demonstrou, na América Latina e em todo o mundo, que os especialistas internacionais são tão úteis quanto os ditadores militares, talvez mais, e são muito mais apresentáveis, porque matam para ajudar as suas vítimas.

No Haiti, como em muitos outros países, foram o Fundo Monetário e o Banco Mundial que pulverizaram o poder público e eliminaram os subsídios e as tarifas alfandegárias que de alguma maneira protegiam a produção nacional de arroz. Os camponeses que viviam de sua produção foram convertidos em mendigos ou balseiros, jogados nas ruas ou aos tubarões, e o Haiti passou a importar o arroz, esse sim subsidiado, esse sim protegido, dos Estados Unidos.

Graças aos bons serviços destes filantropos internacionais, o terremoto aniquilou um país aniquilado: sem Estado, sem instituições, sem hospitais, sem escolas.

Sem nada? Sem nada de nada?

Em 1996, o deputado alemão Winfried Wolf, que passava alguns dias no Haiti, consultou as estatísticas internacionais. Havia escutado milhares de vezes que o Haiti é um país superpovoado. Surpreendeu-se ao saber que a Alemanha está quase tão superpovoada quanto o Haiti. Mas admitiu: “Sim, o Haiti está superpovoado... de artistas”.

Winfried percorria os mercados sem se cansar nunca de tanto admirar as criações da arte popular deste país. As haitianas e os haitianos têm mãos magas, que revolvem o lixo e do lixo tiram ferro velho, cristais quebrados, madeiras gastas, coisas que parecem mortas, e essas escultoras e escultores lhes dão vida e alegria.

O Haiti é um país jogado no lixo, terra desprezada, terra castigada, que agora parece, depois do terremoto, mais morta que nunca. Restaram mãos magas capazes de ressuscitá-lo?

Um dos sobreviventes, que perdeu mulher, filhos, casa, tudo, respondeu à pergunta de um jornalista: “E agora? Agora choro. Todas as noites choro. Aqui, na praça onde durmo, choro. E depois me levanto e caminho. Sem destino. Caminho. Sigo. Busco a vida. Não me perguntes por quê”.

[Recebi esse artigo via e-mail, pela Lista Social-L. De qualquer forma me pergunto porque as pessoas ainda me perguntam porque eu acho ele absurdamente um dos melhores jornalistas que conheço e porque tenho muitos livros dele na estante de casa. Ele sabe o que diz, ele sabe o que pensa.]

09 janeiro 2010

Minha aventura com Sherlock Holmes

Sempre gostei de histórias que envolvessem mistérios e detetives. Parece um imã. Então, não é à toa que na TV a cabo, algumas das minhas séries favoritas sejam Law & Order, Law & Order Special Victmis Unit e Cold Case.

A paixão começou ainda na infância. Li vários do gênero. Os primeiros foram daquela série que adolescentes iam em busca de tesouros e para virar de página era necessário desvendar mistérios [i]. Depois passei por muitos livros da Coleção Vaga- Lume (como A Ilha Perdida, A primeira reportagem, O preço da coragem, Sozinha no mundo, Vencer ou Vencer, entre outros), passei por Agatha Christie (que é mais policial) até chegar a Sir Arthur Conan Doyle e o fantástico Sherlock Holmes.

Holmes, como sabem, é um famoso detive inglês que faz trabalhos particulares e atua, numa espécie de freela, da Scottland Yard (polícia inglesa). Com uma inteligência e um senso de percepção acima da média, era capaz de resolver as situações mais impossíveis. Obviamente que Sherlock Holmes contava com a ajuda do Dr. Watson, médico e parceiro de aventuras.

Então, como podem imaginar, fui assistir no cinema a estréia de Sherlock Holmes nos cinemas brasileiros, ocorrida em oito de janeiro de 2010 (trailer no final do post). Uma diferença de pelo menos, 15 dias se comparadas aos países da Europa e os Estados Unidos.

Antes de entrar na sala, quase surtei . Chegamos 20 minutos antes do começo do filme e a fila para a compra de ingressos era quilométrica. Mas não perdemos nada – ainda bem. Quando entramos no cinema estavam passando as propagandas e os trailers. Só tivemos que achar nossas poltronas numeradas [ii] (números dois e três, da terceira fileira) e esperar.

Então, o filme começou e quando menos percebemos havia acabado. Sherlock Holmes agradou muito. Digo mais, superou as expectativas de uma fã (quase tiete) especialmente pelo humor mais do que irreverente da dupla Holmes (interpretado por Robert Downey Jr, de O Homem de Ferro) e Watson (Jude Law).

Além de desvendarem o mistério que envolve o sinistro Lord Blackwood (Mark Strong) ao meio de muita confusão, os amigos também precisam tomar cuidado com a bela Irene Adler (Rachel McAdams), única pessoa a enganar o detetive inglês duas vezes e que o fez se apaixonar.

Os parceiros também enfrentam uma crise no relacionamento por causa da aproximação do casamento de Watson, propondo um possível fim do trabalho desse com Holmes. O amigo faz de tudo para atrapalhar o romance e ficar perto do companheiro de aventuras.

Óbvio que o Holmes [moderno] das telonas é mais travesso e malandro que o comportado Holmes dos livros[iii]. Porém ambos possuem a mesma mente brilhante e dissecam cada caso em um passe de mágica e com muita aventura.

O ano, com Sherlock Holmes nos cinemas, começou muitíssimo bem. Mas “isso é elementar não meu caro Watson”?




[i] Como puderam notar, esqueci o nome da série, se alguém souber através dessa descrição e puder ajudar, agradeço.

[ii] Confesso que para mim é a revolução do mundo. Cadeiras numeradas... como gente do interior se deslumbra com essas novidades bestas não?

[iii] Os romances mais famosos de Sir Conan Doyle sobre Sherlock Holmes são Um estudo em vermelho, Os signos dos Quatro. Sem contar os contos como As aventuras de Sherlock Holmes, As memórias de Sherlock Holmes, o Último Adeus de Sherlock Holmes, entre outros.

05 janeiro 2010

68 é o ano que não terminou?

Há tempos estava de olho em um livro. Pra não dizer mais de um ano. Comprei no final de 2009. O livro, por sinal, bem conhecido: “1968 – O ano que não terminou”, do jornalista Zuenir Ventura. Queria o livro porque primeiro estava nos meus interesses de jornalismo literário, segundo porque queria descobrir um pouco mais da história do ano que fez história no cenário mundial, incluindo o Brasil.

Vários foram os acontecimentos ocorridos naquele de 68: Primavera de Praga, Guerra do Vietnã, Maio de 1968 - quando estudantes contestam o sistema vigente (tendo como palco principal Paris) -, morte de Martin Luther King, e aí por diante. Nas nossas terrinhas, outras tantas coisas: assassinato do estudante Edson Luís, no Restaurante Calabouço (RJ), Passeata dos 100 mil, Congresso da UNE, em Ibiúna e, infelizmente, a publicação do Ato Institucional Número 5, pelo presidente Costa e Silva, acontecido em 13 de dezembro de 1968, (que marca o início dos dez mais terríveis anos da Ditadura Militar, - 64 a 85).

O livro de Zuenir conta exatamente a história acontecida em nosso país naquele ano (para muitos, fatídico). E ele conta, obviamente, com maestria. É fácil se deixar levar pelo enredo, especialmente se você tem um pé na esquerda e o outro no Movimento Estudantil. Isso sendo bem reducionista – claro - já que a causa do livro não é tratar da esquerda em si ou do movimento estudantil, mas de mostrar como a sociedade pode dar uma resposta a aqueles que de alguma forma ou outra, oprimem o povo (os exemplos são as Diretas Já em 83, os Cara-Pintadas em 92 pedindo o Impeachment do Collor, a Ocupação da UNB em 2008, quando verba para aplicação de recursos destinados a pesquisa científica foi desviada para a compra de objetos de decoração de luxo e utilizados na reforma do apartamento utilizado para moradia do reitor da época Timoty Mulholland). O buraco, como podemos notar, é muito mais embaixo.

Em alguns momentos, a história dos nossos vanguardistas é um tapa na cara, como a capítulo “Que Juventude é essa”, que relembra o discurso de Caetano Veloso, no III Festival Internacional da Canção, ocorrido em setembro daquele ano. Diante de uma platéia descontrolada, ele simplesmente “desce à lenha”. Um trecho: "Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? (...); são a mesma juventude que vai sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada. (...) Mas que juventude é essa, que juventude é essa? Vocês jamais conterão ninguém! Deus está solto!”. E a gente, juventude, responde como? Fica a questão.

Em 2008, o livro do jornalista foi relançado e com ele um brinde: “1968 – O que fizemos de nós”. O presente contém entrevistas com os principais ativistas daquele ano, como a professora Heloísa Buarque de Hollanda, Franklin Martins, Césinha, Fernando Henrique Cardoso e também Caetano Veloso. Intelectuais de primeira, coerentes de acordo com seus pensamentos e atitudes (até mesmo nosso ex-presidente, FHC). Uma geração muito diferente da de hoje, muito mais política que a de hoje (embora a militância tenha se modernizado e ocorra de outras formas – até porque a atualidade exige isso).

Vale a pena conhecê-los de perto, vale a pena ler o livro. Talvez para quem é menos engajado, algumas partes de tornem um pouco chata ou sejam consideradas loucuras, mas foram loucuras que mudaram uma época, uma história e que nos conduziram a outro modo de pensamento, de vida e de reações. E é aí que nos perguntamos: 68 é o ano que terminou?