31 dezembro 2009

"Nem toda loucura é genial, como nem toda lucidez é velha"

Chico Buarque de Holanda - Última Hora - 9/12/1968 *

Estava mal chegando a São Paulo, quando um repórter me provocou: "Mas como, Chico, mais um samba? Você não acha que isso já está superado?" Não tive tempo de me defender ou de atacar os outros, coisa que anda muito em voga. Jáera hora de enfrentar o dragão, como diz o Tom.

Enfrentar as luzes, os cartazes, e a platéia, onde distingui um caro colega regendo um coro pra frente, de franca oposição. Fiquei um pouco desconcertado pela atitude do meu amigo, um homem sabidamente isento de preconceitos. Foi-se o tempo em que ele me censurava amargamente, numa roda revolucionária, pelo meu desinteresse em participar de uma passeata cívica contra a guitarra elétrica. Nunca tive nada contra esse instrumento, como nada tenho contra o tamborim. O importante é ter Mutantes e Martinho da Vila no mesmo palco.

Mas, como eu ia dizendo, estava voltando da Europa e de sua música estereotipada, onde samba, toada etc. são ritmos virgens para seus melhores músicos, indecifráveis para seus cérebros eletrônicos. "Só tenho uma opção, confessou-me um italiano - sangue novo ou a antimúsica. Veja, os Beatles, foram à Índia..." Donde se conclui como precipitada a opinião, entre nós, de que estaria morto o nosso ritmo, o lirismo e a malícia, a malemolência.

É certo que se deve romper com as estruturas. Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes, já traz dentro de si os elementos de renovação. Não se trata de defender a tradição, família ou propriedade de ninguém. Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu as estruturas da nossa canção. E se o rompimento não foi universal, culpa é do brasileiro, que não tem vocação pra exportar coisa alguma. Quanto a festival, acho justo que estejam todos ansiosos por um primeiro prêmio. Mas não é bom usar de qualquer recurso, nem se deve correr com estrondo atrás do sucesso, senão ele se assusta e foge logo. E não precisa dar muito tempo para se perceber que "nem toda loucura é genial, como nem toda lucidez é velha".


*O texto foi postado depois da leitura de um trecho de "1968-O ano que não terminou", do jornalista Zuenir Ventura. Encontrei ele na íntegra na página do próprio Chico (http://www.chicobuarque.com.br).

17 dezembro 2009

MON e a Cultura em Curitiba



Viver em Curitiba, na capital do Paraná, tem suas vantagens. Entre tantas coisas, preciso lembrar que a vida cultural da cidade praticamente não para. Toda semana tem exposição nova, lançamento de livro, bate-papos discutindo vários assuntos, peças de teatro e shows. Agora no final de ano então... mais ainda. São espetáculos natalinos como o do HSBC, e Altos de Natal (como o que acontece em frente à Universidade Federal do PR – UFPR).

Porém, um lugar da cidade merece destaque: o Museu Oscar Niemeyer (MON) ou popularmente conhecido como Museu do Olho. Localizado no Centro Cívico, o MON foi construído pelo arquiteto Oscar Niemeyer (o mesmo que projetou Brasília (DF), o Complexo da Pampulha em Belo Horizonte (MG), Parque do Ibirapuera em São Paulo (SP), entre outros).

Antes de virar museu (em 2002), era sede de uma das secretarias do Estado e se chamava Edifício Presidente Humberto Castelo Branco. As obras necessárias tiveram um custo de aproximadamente US$ 14 milhões com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Atualmente, o MON (que já foi conhecido por Novo Museu) possui 17.744,64 mil metros quadrados de área expositiva potencial.

O acervo que iniciou veio a partir de obras do Museu de Arte do Paraná (MAP) e do acervo do extinto Banco do Estado do Paraná (Banestado) e conta mais de duas mil peças. Entre as principais coleções podemos destacar as dos paranaenses Alfredo Andersen, Theodoro De Bona, Miguel Bakun, Guido Viaro e Helena Wong, além de Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Oscar Niemeyer, Ianelli e Caribé, e muitos outros.

Desde 2003, o MON começou a abrigar exposições que antes estavam mais restritas ao eixo Rio-São Paulo (como quase tudo no Brasil) e virou ponto de referência da cultura nacional e internacional. Em 2004 três novas salas foram abertas para exposições dentro da torre do Olho. Elas são exclusivamente dirigidas para exposição de fotografia e fazem parte do que se é conhecida por Torre da Fotografia.

Dentro do Museu, as exposições são diferenciadas. Existem as permanentes e as em cartaz. As primeiras são: Espaço Niemeyer que, segundo o site do MON, “reflete o estímulo conceitual que anima o arquiteto Oscar Niemeyer em seus projetos, também exemplificado nas formas que deu personalidade ao Museu que leva seu nome” e Pátio das Escultura (Arte a Céu Aberto) que, são “Expressivas obras da coleção do acervo do Museu de artistas como Amélia Toledo, Bruno Giorgi, Erbo Stenzel, Emanoel Araújo, Francisco Brennand, Sérvulo Esmeraldo e Tomie Ohtake assinam as esculturas exibidas no espaço, com mais de 800 metros quadrados de área”

Já as em cartaz, são aquelas itinerantes e ficam por apenas um determinando tempo. Em 2009, as exposições do MON são: Gravuras – Poty Lazzarotto, Garfukel – Um frânces no PR (Paul Garfunkel), Quilombolas (André Cypriano), Autocromos Irmãos Lumière (Auguste e Louis Lumière) e outras.

Em anos anteriores era possível encontrar: Percurso Afeito Tarsila (Tarsila do Amaral), João Urban – 40 anos de fotografia (João Urban), Picasso: Paixão e Erotismo (Pablo Picasso), Rembrandt e a arte da gravura (Rembrandt) e inúmeras que tratam do Oscar Niemeyer.

Ou seja, para quem gosta de cultura o Museu do Olho é super indicado. E não é chato como o povo mais jovem acha. Entrar em um museu, especialmente do estilo do MON, vale a pena não só pelas exposições e sim pelo próprio espaço divertido (aquele corredor que leva à Torre que o diga). O horário de funcionamento do museu é de terça e domingo, das 10 as 18 e a entrada custa R$ 4 a inteira e R$ 2 a meia – para estudantes, maiores de 60 e grupos escolares. Porém, não aconselho muito ir no primeiro domingo de cada mês já que a entrada é gratuita.

Fotos: Annelize Tozetto e André Luan

10 dezembro 2009

Coxa Branca: uma mancha vermelha alviverde










Como a maioria das pessoas sabe (e quem não sabe fica informado neste momento de que) torço para o Atlético Paranaense. Isso mesmo: sou Atlético, “maloqueiro e sofredor”, com muito orgulho. E como torcedora, acredito que o Furacão brilha (e brilha muito). Não é à toa que em 2009 ele foi o Campeão Paranaense e escapou (no finalzinho) do rebaixamento do Brasileirão. Assim, tornou-se o único time a representar o Paraná na disputa do Brasileirão 2010.

Único porque o maior rival – Coritiba – foi rebaixado para a Segunda Divisão no último domingo (6). A partida rolou no Estádio Couto Pereira, contra o Fluminense e terminou com um empate de 1x1. Obviamente, a alegria de ver o outro caindo para a segundona foi fantástica. Rival que é rival torce assim. Porém, essa mesma alegria foi substituída por uma vergonha que deve caber o mundo dentro.

Todos que viam (ao vivo no/do Couto) ficaram estarrecidos com a barbárie que ocorria dentro de campo. Era jogador do Coxa, do Fluminense e Arbitragem fugindo de uns malucos (torcedores alviverdes) que resolveram – simplesmente – invadir o campo. Não só invadiram como acabaram por destruir o Estádio (do time que, lembrando, eles torcem).

Banco de reservas voando de um lado para o outro. Gente saindo carregada para fora do campo. Bomba caseira explodindo dentro de ônibus. Famílias inteiras sem saber o que fazer: sair dali, ficar e esperar, enfim, um horror.

E a polícia ali, tentando conter o povo (sem nenhum sucesso, obviamente). E essa empreitada contou com 700 policiais espalhados por Curitiba, sendo que cerca de 50 estavam dentro do Couto. Não se sabia o que era pior: dentro ou fora do estádio. Alguns dos “agitadores” (para dizer o mínimo) já foram presos. Outros tantos estão soltos e a Polícia Militar pede que todos ajudem na identificação. Clique aqui.

O Coritiba, que completou o Centenário em 2009, se encontra sem casa por tempo indeterminado já que o Couto está interditado (provavelmente até que tenha arrumado todas as falhas de segurança). O Clube também poderá pagará multa de R$ 230 mil e perder o mando de campo por até 10 partidas. Tudo baseado nos artigos 211 e 213 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). Maiores informações aqui.

Na guerra que se viu, o resultado foi: 18 pessoas foram parar em hospitais da capital paranaense (duas em estado grave), milhares de outras assustadas e uma mancha vermelha alviverde para o futebol do Paraná e do nosso país, especialmente para uma cidade que será sede da Copa de 2014. Que vergonha Brasil.

Fotos: Valterci Santos - Agência de Notícias Gazeta do Povo/AE


01 dezembro 2009

All You Need is Love















- Vamos lá amor? Parou de chover.

- Vamos!

E dá-lhe correria. Tomam uma ducha, penteiam o cabelo, colocam roupa e sapato. Ela passa a maquiagem e ele ajeita o boné. Conferem documentos: tudo ok. Antes de sair, pegam as câmeras fotográficas e “voam”. Antes uma paradinha no banco e na farmácia. Isso totaliza quase 20 minutos de atrasado. Mas eles chegam a tempo ao destino: Palácio Avenida, localizado no Calçadão da XV, Centro de Curitiba – PR.

O motivo da visita? As apresentações natalinas realizadas todos os anos em parceria com diversos corais infantis da cidade. Ponto de referência na capital paranaense desde 1991, o “Natal HSBC 2009” tem como tema deste ano “Diferente Natais pelo Mundo”, em lugares como Inglaterra, África, Japão, Alemanha, México e Líbano. A condução do espetáculo fica por conta da atriz Ângela Vieira, que interpreta a Estrela Guia.

Para 2009 é esperado um público de 20 mil pessoas por dia. No final da temporada (que começou dia 27 de novembro e vai até 20 de dezembro) podem passar pelo Palácio Avenida cerca 200 mil pessoas. É gente na calçada, gente nos prédios ao redor e também gente nos barzinhos que veem/ouvem a cantoria da garotada.

Com quase uma hora e meia de duração, o espetáculo consegue deixar qualquer pessoa - até mesmo como eu, que estava fora do espírito natalino – encantadas. Várias músicas conhecidas, outras nem tanto, mas todas cantadas e encenadas de maneira espetacular, cheio de amor e diversão. Ao pé do Palácio Avenida é possível notar a satisfação de todos: tanto de quem canta quanto de quem assiste.

Não é difícil encontrar quem acompanhe algumas das letras ou faça comentários: “Nossa... que lindo”, “Puxa...”, entre outras. Até porque se torna quase impossível conseguir conter esse tipo de fala com as apresentações das crianças cantantes.

Um dos pontos auges da apresentação – sem sombra de dúvida – é quando eles chegam ao Natal inglês. Além de a apresentação ser divertidíssima, as músicas escolhidas não poderiam ter sido melhores: “We Wish You a Merry Christmas” mesclando com “All You Need is Love”, dos quatro garotos de Liverpool, popularmente conhecidos no mundo todo como The Beatles. E aí não se necessita de nenhum esforço para conseguir um comentário: “Perfeito!”.

Depois, é esperar as últimas músicas e acompanhar a queima de fogos. Obviamente que aí a moça e o rapaz das câmeras fotográficas ficaram quase desesperados. Se ajeitaram aqui, se ajeitaram ali, dispararam todos os clicks e até que conseguiram boas imagens. No fim, voltaram para a casa com uma boa sensação e com um desejo de repeteco.

-Com certeza, vamos assistir mais uma vez não, amor?

- Com certeza, vamos!

Fotos: Annelize Tozetto

Vídeos: André Luan: