23 novembro 2009

A menina que roubava livros

*UMA PEQUENA TEORIA*

“As pessoas só observam as cores do dia no começo e no fim, mas para mim, está muito claro que o dia se funde através de uma multidão de matizes e entonações, a cada momento que passa. Uma só hora pode consistir em milhares de cores diferentes. Amarelos céreos, azuis borrifados de nuvens. Escuridões enevoadas. No meu ramo de atividade, faço questão de notá-los”.

A frase está logo nas primeiras páginas do livro “A menina que roubava livros”. Quem escreveu isso poderia muito bem ser um fotógrafo, mas não é. Quer dizer, talvez seja. A Morte bem que pode ser considerada uma fotógrafa que registra e reflete e colhe todos os tipos de sentimentos, de pessoas e de situações.

E talvez seja por isso que eu tenha me apaixonado pela narrativa feita por Markus Zusak. Ela tem cores. Ela é viva. Ela pulsa. Ela nos faz querer viver cada minuto, intensamente. Nem que seja através da história da roubadora de livros, Liesel.

O pano de fundo é a Alemanha Nazista de Hitler no período da Segunda Guerra Mundial[1]. Porém, apesar da situação, a narrativa tem um tom delicado e profundo. É preciso ter tato aguçado para contar a história dos judeus, afro-descendentes e LGBT’s que sofreram nessa época. Em números oficiais, foram mortos 6.700.000 pessoas, sendo que mais de 90% eram de origem judaica. Não é para menos que essa época é considerada uma das marcas mais tenebrosas do século XX.

A Morte, narradora da história, está presente sempre, de alguma forma. Mas não a caricaturem através de foices, de esqueletos e de panos pretos com capuz (aliás, esses somente em dias frios). Pensem na Morte como algo maior e mais singelo ao mesmo tempo. Com sentimentos, de todas as cores possíveis. E ela conta a história de uma menina alemã, Liesel, que como vocês já deduziram, adora roubar livros. A garota ao fazer isso, sente-se viva. Uma espécie de recompensa ao que lhe acontece.

E a menina alemã é adotada por uma família alemã (já que seus pais de sangue eram comunistas e precisavam sair/fugir da Alemanha de Hitler). A nova família de Liesel passou por muitas fases – da qual a mais tensa foi a convivência com Max – mais tensa e ao mesmo tempo mais bonita. Só que isso vocês mesmo precisam descobrir e sentir.

Indico o livro para quem precisa de um fôlego novo. Para quem precisa sonhar. Para quem precisa viver – nem que seja através da Sacudidora de Palavras e do Homem estranho. Se em 2008, a história de Liesel me ajudou a escrever a história de três famílias em “Por trás do Risco”. Em 2009 veio me lembrar de que escrever de maneira instigante faz com que nós apaixonemos pelas palavras e pelo nosso dia-a-dia. Leiam. Vale muito à pena!



[1] A Segunda Guerra envolveu mais de 70 países , que se dividiam entre Potência do Eixo (Alemanha, Japão e Itália) e os Aliados (Estados Unidos, Rússia E Inglaterra). Foi aí que EUA e União Soviética se destacaram e acabaram por iniciar a Guerra Fria – a corrida armamentista que durou até a queda do Muro de Berlim (maior símbolo da Guerra Fria), em 9 de novembro de 1989

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