28 março 2011

Sobre esperança

Na tarde de hoje, 28, meu amigo de faculdade, de profissão Vitor Hugo Grossl Gonçalves, 24, teve sua morte cerebral confirmada (ela diagnosticada ontem, 27) , depois de um acidente automobilístico sofrido por ele e mais quatro amigos na noite de sexta-feira, quando viajavam rumo à Florianópolis, para uma formatura. E o que era para ser uma viagem de diversão e alegria virou tragédia.
Os dias que se seguiram tiveram um pouco de tudo – dor, nervosismo, lágrimas, aproximação e esperança. Essa foi persistente, do início ao fim, seguiu cada um de nós, cada nova notícia vindas do Hospital São José (na cidade de Joinville) – mesmo que desencontrada - nos fazia vibrar pras coisas melhorarem. Uma esperança que fazia doer por não sabermos o que te acontecia, uma esperança que nos fazia pensar e dizer: “Força, melhora aí” e que ao mesmo tempo não deixava esquecer que estávamos esperando um milagre, igual quando torcemos para que o nosso time ganhe aquele jogo que é dado como perdido.
Porém, nem tudo sai como queremos. Quando o falecimento foi anunciado ficamos todos nós – amigos e principalmente a família – sem muita reação, em estado de choque, sem saber muito o que pensar, sem nem mesmo acreditar. Um baque surdo que nos levava aos diversos momentos vividos ao lado dele, independentes de serem divertidos ou não.
Formado em Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Vitor atuava no jornalismo esportivo nas rádios MZ e Sant’Anna e era fundador do Net Esporte Clube. Alguém que viu Ponta Grossa dar-lhe boas vindas, mesmo que nem sempre a cidade se mostre simpática com quem é de fora (às vezes, sequer simpatiza com os nativos). Alguém que mostrou que era possível fazer outro tipo de jornalismo, e que poderíamos sim fazer a diferença – dentro e fora de campo.
Sua última jogada foi doar os órgãos. Ao todo, seis  pessoas poderão ser salvas (a informação inicial era de 16 pessoas. Mas hoje o Jornal da Manhã publicou que serão seis, desculpem o erro). E se a esperança se foi para nós, outras pessoas e outras famílias poderão vibrar com essa nova oportunidade que lhes é dada. Se ficamos tristes por sua partida, ficamos felizes por esse gesto porque muitas vidas serão renovadas e vividas de maneira intensa.
Nenhuma palavra do que eu digo poderá consolar a família ou amigos mais próximos. Só tenho a dizer que perder alguém que se ama é uma dor alucinante, que deve ser vivida em toda a sua plenitude e em todas as suas lágrimas. Uma dor (acreditem) que mais cedo ou mais tarde vai ser substituída por uma saudade mansa, enorme, cheia de carinho e respeito. Uma saudade que nos dará a certeza que tudo que vivemos ao seu lado valeu a pena. E aí, talvez, poderemos tentar entender porque a sua passagem por essa vida foi tão rápida.

“É tão estranho. Os bons morrem jovens. Assim me lembro de você que acabou indo embora, cedo demais (...). Vai com os anjos, vá em paz!” (Love in the afternoon – Legião Urbana)

ps: O enterro e o velório ainda não tem data e horário definido. Quando essas informações forem divulgadas, transmito a quem conseguir. 
ps2: O velório começou ontem às 20 horas e terminou hoje com o sepultado às 09h30. Dentre os presentes, muitos amigos , colegas de profissão de Ponta Grossa. Muita união em um momento como esse.

12 março 2011

Perdão

"(...) Através do perdão, recuperamos nosso integridade, depois de um conflito violento. O perdão é o bálsamo, o antídoto para a violência. Ele começa pela auto-compaixão, quando conseguimos compreender nossa própria inconsciência no momento da falta, seja ela algo extremo, como a violência explícita, ou apenas uma grosseria. Perdoar-se pelo que se cometeu é um estágio fundamental, para que se evolua no sentido de perdoar aos outros quando voltaram sua violência contra nós.
Além disso, ficamos livres da camisa-de-força do perfeccionismo e de sempre acreditar que estamos com a razão. Perdoando-nos, podemos aceitar que somos humanos, que cometemos erros, que nos comportamos mal, e que, mesmo assim, existe a possibilidade de superar a grande violência  de odiar-se, para abrir a possibilidade de amar-se integralmente. De maneira incondicional.
É, também, o que permite pedir perdão a quem ofendemos. Com sinceridade. Assim, será possível recuperar nossa própria consciência, não importando se a outra pessoa perdoa ou não (embora a maioria costume a perdoar, sim, quando diante de um pedido convincente). Pelo simples gesto, já estamos nos libertando do passado.
Se alguém pede perdão a você, esta é outra grande oportunidade de cura. Sem perdoar, ficamos presos à outra pessoa através da nossa raiva. Acorrentados ao passado. Encalhados.
Isso não significa que temos de perdoar sem estarmos realmente prontos, o que implica processar todas as emoções, da raiva à vontade de vingança. Mas toda cura é um passo em direção ao perdão. Perdoando em profundidade, quando todas as condições estão reunidas, é possível libertar-se das amarras que nos prendem a quem nos magoou ou feriu. Isso resulta da possibilidade de ser livre, novamente: para amar, para sair finalmente daquela história, para ser novamente vulnerável. (...)"

[JEON, Arthur . Calma no Caos - Ensinamentos budistas para Viver Melhor. Tradução: Maria Antonia Van Acker - São Paulo: Ediouro, 2008 - páginas158 e 159]