
Imagino então que, dessa vez, a risada da minha doce e pequena afilhada Alice tenha desencadeado tudo. Aliás, com certeza foi. Era aquele riso tranquilo, inocente, e que poderia demorar horas. Aquele riso que eu mesma costumava a ter quando era criança e saía por aí a passear com você de mãos dadas pelas ruas do bairro. Aquele mesmo riso de encantamento ao descobrir um cachorro ou um pássaro no céu. Aquele riso inocente.
Foi no meio desse riso que eu tive a nítida impressão de te ver entrar em casa e se dirigir pra cozinha preparar o café, como fazia sempre de segunda à sexta, às três e meia da tarde. E eu realmente pude ouvir os barulhos de gavetas, xícaras e talheres. Se demorasse mais um pouco, era capaz de escutar o rádio sintonizado naquela estação AM que tanto tocava quando ainda estava por aqui. Tive que respirar fundo e voltar a me concentrar, lembrar de que tudo isso se fora há mais de dois anos e que nada do que acontecesse mudaria o fato e que a única pessoa que estava ali comigo tinha dois anos de idade.
As sensações não pararam por aí. Coisas a mais aconteceram, minutos depois. Ou antes. Agora fica difícil distinguir. Levei a Alice pra sacada – no meu colo, em segurança, claro - e quase pude te ver, encostado na parede, apreciando o movimento, como sempre fazia aos domingos ou sábado à tarde quando não ficava na Farmácia do Zé, conversando. Transcendi ao acreditar que poderia, naquele momento, estar ao seu lado, olhando aquele horizonte bonito que temos da sacada do apartamento, como fiz durante quase a minha vida toda...

Muito amor e muita saudade. Sempre.
vi no dia q vc postou q ele estaria fazendo 67 anos, acabei não comentando, mas mandei um abraço apertado em meus pensamentos. em relação a isso, a gente sempre se entende mesmo em silêncio, né? o mais difícil é seguir evitando pensar 'que poderíamos estar em casa', juntinhos, dividindo a vida... mas a gente segue,né, flor? tem q seguir :/ bjo grande, abraço forte!
ResponderExcluirAh... isso é uma coisa que a gente sempre vai pensar né, até nos acostumar de fato com a ideia. Mas é igual você disse: precisamos continuar nosso caminho e eles também precisaram... lá pra frente, com certeza, vamos nos encontrar de novo e será uma grande festa. Beijos grandes e abraço forte, porque você sabe como é essa luta.
ResponderExcluirViu, não querendo ser pau no c*, mas você sabe que nunca vai se acostumar de fato com a ideia, não sabe?
ResponderExcluirEu estou me convencendo disso, e é impressionante que não importa quanto tempo faz, dói como se fosse a primeira vez em que paramos para pensar. Aí a gente resolve que não vai mais pensar no assunto. Pensar pra quê? Dói. E basta apenas um cheiro, uma música, um livro ou uma risada, e aquele turbilhão de pensamentos, mantidos em segredo numa caixinha no fundo do coração, voltam a tona, e quanto mais lutamos contra eles, mais nos afogamos em nossos sentimentos.
Droga, pensei de novo, to chorando ai que ódio de você....
Mas, nem tão no fundo assim, você sabe que te amo, né?
Eu sei. Acredite. Nunca vai passar. Porque, apesar de ser a ordem natural da vida, a gente nunca está realmente preparado - talvez só quando já somos velhos e sábios. Não sei te responder isso. A dor, a raiva e todas essas coisas são substituídas com o tempo por uma saudade ENORME maior que a gente mesmo e que se prende nas menores coisas - pode incluir aí as diferenças de pensamento. E ela só aumenta. Talvez quando ela tiver no auge a gente fale mais susse! É uma ideia...
ResponderExcluirAhuahuahauh se na flor da idade a gente gasta tempo pra filosofar sobre a vida e a morte, imagina que será de nós quando estivermos no auge da idade da razão?
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