05 janeiro 2010

68 é o ano que não terminou?

Há tempos estava de olho em um livro. Pra não dizer mais de um ano. Comprei no final de 2009. O livro, por sinal, bem conhecido: “1968 – O ano que não terminou”, do jornalista Zuenir Ventura. Queria o livro porque primeiro estava nos meus interesses de jornalismo literário, segundo porque queria descobrir um pouco mais da história do ano que fez história no cenário mundial, incluindo o Brasil.

Vários foram os acontecimentos ocorridos naquele de 68: Primavera de Praga, Guerra do Vietnã, Maio de 1968 - quando estudantes contestam o sistema vigente (tendo como palco principal Paris) -, morte de Martin Luther King, e aí por diante. Nas nossas terrinhas, outras tantas coisas: assassinato do estudante Edson Luís, no Restaurante Calabouço (RJ), Passeata dos 100 mil, Congresso da UNE, em Ibiúna e, infelizmente, a publicação do Ato Institucional Número 5, pelo presidente Costa e Silva, acontecido em 13 de dezembro de 1968, (que marca o início dos dez mais terríveis anos da Ditadura Militar, - 64 a 85).

O livro de Zuenir conta exatamente a história acontecida em nosso país naquele ano (para muitos, fatídico). E ele conta, obviamente, com maestria. É fácil se deixar levar pelo enredo, especialmente se você tem um pé na esquerda e o outro no Movimento Estudantil. Isso sendo bem reducionista – claro - já que a causa do livro não é tratar da esquerda em si ou do movimento estudantil, mas de mostrar como a sociedade pode dar uma resposta a aqueles que de alguma forma ou outra, oprimem o povo (os exemplos são as Diretas Já em 83, os Cara-Pintadas em 92 pedindo o Impeachment do Collor, a Ocupação da UNB em 2008, quando verba para aplicação de recursos destinados a pesquisa científica foi desviada para a compra de objetos de decoração de luxo e utilizados na reforma do apartamento utilizado para moradia do reitor da época Timoty Mulholland). O buraco, como podemos notar, é muito mais embaixo.

Em alguns momentos, a história dos nossos vanguardistas é um tapa na cara, como a capítulo “Que Juventude é essa”, que relembra o discurso de Caetano Veloso, no III Festival Internacional da Canção, ocorrido em setembro daquele ano. Diante de uma platéia descontrolada, ele simplesmente “desce à lenha”. Um trecho: "Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? (...); são a mesma juventude que vai sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada. (...) Mas que juventude é essa, que juventude é essa? Vocês jamais conterão ninguém! Deus está solto!”. E a gente, juventude, responde como? Fica a questão.

Em 2008, o livro do jornalista foi relançado e com ele um brinde: “1968 – O que fizemos de nós”. O presente contém entrevistas com os principais ativistas daquele ano, como a professora Heloísa Buarque de Hollanda, Franklin Martins, Césinha, Fernando Henrique Cardoso e também Caetano Veloso. Intelectuais de primeira, coerentes de acordo com seus pensamentos e atitudes (até mesmo nosso ex-presidente, FHC). Uma geração muito diferente da de hoje, muito mais política que a de hoje (embora a militância tenha se modernizado e ocorra de outras formas – até porque a atualidade exige isso).

Vale a pena conhecê-los de perto, vale a pena ler o livro. Talvez para quem é menos engajado, algumas partes de tornem um pouco chata ou sejam consideradas loucuras, mas foram loucuras que mudaram uma época, uma história e que nos conduziram a outro modo de pensamento, de vida e de reações. E é aí que nos perguntamos: 68 é o ano que terminou?

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